08 setembro 2005

pequenas pedras e contos

Obrigado pelos simpáticos comentários que espero conseguir ir dando resposta no decurso deste blogue não só dedicado à justiça que por vezes é bem maçuda. E sei que ninguém se lembra que coloquei a hipótese de escrever algumas linhas de um conto pelo que, para vossa infelicidade, aqui vão algumas linhas. As pequenas pedras do título referem-se apenas a querer referir que a especialização não traz só vantagens como, diga-se, pouco na vida (filhos?saúde?) pelo que pode haver uma certa alienação de determinadas matérias. Mas por isso, no C. E. J. ainda penso que deve haver uma parte geral que abrange o ramo civil e penal o que já teria de estar adquirido, em parte, na faculdade que também mereceria uma profunda revisão (é ver, os advogados e juízes, todos os dias, a citar filósofos de direito conceituados como Santo Agostinho). Mas essa análise não sou capaz de fazer pelo que me limito à magistratura. E, não haja ilusões, um juiz de direito criminal há cerca de três ou mais anos, em regra geral, tem medo de fazer providências cautelares e um juiz cível sempre que pode evita fazer um julgamento crime em processo sumário pelo que as desvantagens da especialização já existem. E agora o conto:
A planíce geme sob o calor do último dia de Agosto. O silêncio ecoa pelas ruas desertas enquanto as osgas procuram a sombra na cal branca das paredes. A velha azinheira da Rua do Norte suspira pela última vez deitando por terra a última folha.
João Sertório desvia o olhar para a janela ao seu lado direito.Sem expressão. Sem vida. O ruído do balançar da cadeira embalou a sua mente durante vinte e cinco anos. Só Álvares e Albertina lhe trazem o aroma da vida exterior.
Para trás e para a frente. Para a frente e para trás. Os olhos recusam-se a ver. Não querem ver a terra seca. Não querem ver a fotografia em cima da lareira onde uma mulher sorri com uma criança nos seus braços.
O vento começa a soprar e a folha é arrastada pelas ruas da aldeia. Sertório levanta vagarosamente a mão direita e afasta a cortina. A escuridão da cozinha desaparece na luz dos seus olhos. Pousa novamente a mão no braço da cadeira. Mãos brancas. De um salto, Sertório cresce. Ainda sente o movimento da cadeira nos seus ossos tendo de se apoiar na parede. A manta que lhe cobria as pernas jaz no chão.
Em frente. Devagar, muito devagar até alcançar o corredor. Espreita por cima dos olhos sobrevoando os escombros das recordações que há tanto o aprisionam.
A porta.
Bem, de seca acho que é suficiente. Se as reacções não forem muito violentas (lembrem-se que me arrogo de ser o primeiro de uma nova linhagem) pode ser que se veja o que há por detrás da porta. Bem haja a todos.

1 Comments:

Blogger Sónia Sousa Pereira said...

Continue, por favor.

Bendita linhagem!

SSP

setembro 08, 2005 6:06 da tarde  

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