19 outubro 2005

Belle





Quand l'amour est mort, on ne voit plus rien
On maudit le sort qui nous fait survivre
On a peur de vivre, quand l'amour est mortQuand l'amour est mort, on n'a plus besoin…
Dormir. Dormir. É do que preciso.
Belle desliga a canção que toca no relógio despertador às 07.33 horas. Vira-se de costas para os dígitos avermelhados e enrosca-se no lençol. Só mais cinco minutos. Mas o mundo vai ter de viver mais um dia. Cinco minutos depois Belle está debaixo do chuveiro que expele água morna, quase fria. O duche é demorado; é segunda-feira, tem de lavar o cabelo que quer ter coragem de cortar curto .
Café, sumo de laranja e pão fresco que a D. Amélia, sua vizinha lhe coloca todas as manhãs (menos ao Domingo) no puxador da porta. Liga a televisão. O locutor fala da justiça enquanto se exibe uma imagem de arquivo com duas funcionárias a olhar para monitores cintilantes. Enquanto acaba de tomar o café, tira a toalha do cabelo e seca-o ligeiramente.
Depois de uma ligeira camada de base e eyeliner comme il faut, entra no carro e dispara em direcção ao tribunal. Pelo caminho ouve as notícias que falam do número de processos que deram entrada nas férias judiciais (que saudades, Pedro, da nossa praia). Com expressão de enfado, muda de estação e canta em voz alta enquanto Mick Jagger clama por satisfaction.
Chega ao gabinete e a visão do costume: várias resmas de processos para despachar. Por sorte, está num juízo criminal e o expediente faz-se em meia hora. Senta-se e inclinando a cabeça para o lado, atirando o cabelo por sobre o ombro direito, começa a despachar.
São quase 09.30 horas. Daqui a pouco começa o corropio de entra e sai do gabinete para saber quantos julgamentos se fazem entre desistências de queixa, arguidos que não foram notificados ou pedidos de exames ao I. M. L. em relação a acidentes ocorridos há quatro anos. Bem, logo me havia de calhar uma reclamação de créditos apensa a uma execução do Mº. Pº.. Há anos que não pego nisto. Tenho que telefonar ao Luís que nos cíveis deve ter disto aos pontapés. AH!, aí vem a D. Amélia com as notícias.
Tive sorte. Só quatro julgamentos, um de receptação dolosa, dois de desobediência e um de comida estragada num hipermercado. Está na hora de vestir a beca.
Belle pega na beca que está no cabide, veste-a e agarrando nos processos e códigos abre a porta do gabinete que dá directamente para a sala de audiências.
De pé diz o funcionário.
Bolas, ainda hoje ao entrar na sala ainda sinto um nervoso miudinho. Vamos a isto.

Foi Belle. Logo se verá como correram os julgamentos. Tendo findado, em pinceladas muito leves, o processo penal, vou falar um pouco sobre os juízes. Num outro melhor post.

1 Comments:

Blogger Pedro Mineiro said...

É sempre bom ter uma vizinha, a D. Amélia, que para além de colocar todas as manhãs (menos ao Domingo), no puxador da porta, café, sumo de laranja e pão fresco, ainda faz horas extra no tribunal, dando notícia dos julgamentos que a Belle terá que realizar... É caso para dizer: Belle, és uma mulher de sorte!

outubro 24, 2005 12:32 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home


Web Counter by TrafficFile.com