05 outubro 2005

Broken hand e conto


Cá está a nossa deusa com a mão partida (espero que a balança esteja do outro lado). Esta época, se não se pode classificar como o Inverno do nosso descontentamento anda perto disso. Ninguém se entende: juízes querem fazer greve e não assumem aquilo que é o mais básico de qualquer greve: querm melhores condições de trabalho e no mínimo manter o que ganham e os benefícios que têm. Não é preciso o Sr. Fernando Jorge, do alto da sua longa e lustrosa cabeleira branca, vir afirmar que os funcionários fazem greve não pelo dinheiro ou por melhores condições de trabalho e antes pela melhoria da justiça. É mentira. Posso prová-lo. Os funcionários não é isso que dizem. Talvez por que têm piores condições de vida que F. J. e precisam de deinheiro e boas condições de saúde.
Outros dizem que a classe deles (mas não ele, representante sindical dos colegas) manifesta que há retaliação pelo governo. Corajoso. Os outros é que dizem, eu não, sou apenas o megafone deles.
Os advogados estão encurralados entre o trabalho no dia-a-dia com magistrados mal-dispostos e o concordarem com quase todas as medidas do Governo com excepção das férias judiciais que os prejudica eventualmente mais do que aos uízes e magistrados do Mº. Pº já que para aeles os prazos continuama correr, então na insolvência que o governo da época autenticamente classificou como processo civil de arguido preso ou detido o exemplo é claro.
Depois há os que despendem o seu tempo (não sei como o têm - verbo jurídico) em ataques massivos (isto vem da 1ª guerra do Iraque via Artur Albarran) a todos aqueles que o atacam por ser juiz. Lembro-me de ler que o processo especial do processo civil em que o juiz passa a ter maior controle foi classificado apenas como visando dar mais trabalho ao juiz já cheio de trabalho. Mas Alexandre Coelho, receoso de que a sua versão de que a independência dos juízes nada mais é do que uma acusação sem indícios fortes (já leves não digo nada) apoiou a medida mas curiosamente e de certeza sem saber os seus concretos contornos pois não foi ouvido sobre a mesma. Como se pode apoiar ou criticar sem se saber o que está para se legislar?
Uma última palavra para um senhor professor universitário, ex-juiz (ou bolseiro) e antes na iminência de ser julgador no processo Casa Pia, anterior não pronunciador da irmã sua antiga professora e mestre: é tão fácil usufruir do bom da profissão e depois sair e dizer mal. Que falta de carácter. Quase só comparável (mas este é vencedor) ao presidente do S. T. J. que critica a greve dos actuais juízes mas que no tempo dele e do seu dinheiro fez nove dias de greve. Este foi o vencedor do debate não por andar literalmente aos papéis mas por mostrar ao vivo o pensamento português tão nosso: faz o que te digo mas não faças o que faço.
Tenho pena e cada vez mais a desilusão se vem instalando. Tal como em Manuel Ramos.
As raízes do limoeiro foram arrancadas e o tronco está despedaçado por vigorosas machadadasA enxada aber a terra que se prepara para acolher as novas sementes. Não serão as de Luísa mas a dedicação é a emsma. apesar do frio, da testa do viúvo escorrem inúmeras gotas de suor. Manuel Ramos tem cinquenta e seis anos. Nasceu neste mesmo monte, na casa principal, em plena Primavera. Olhos negros, cabelo outrora castanho alourado compunham o seu rosto. Foi aluno regular nas Ciências mas que fazia delirar os professores nas Letras. Ao completar o liceu o pai recebeu pedidos insistentes dos professores para que o convencessem a ir para Lisboa. A mãe, chorosa, consentia silenciosamente. O pai só queria um filho responsável mas feliz. A decisão foi tomada só por Manuel Ramos. Os livros apaixonavam-no. Camilo ensinou-lhe quão fracos são os pilares da sociedade. Com Herculano descobriu que amar também é sofrimento.. Mas do que gostava era de ler romances à sobra de uma oliveira. Era dos campos verdes de Abril dou do ouro de Julho. Era da azáfama da sementeira e alegria da colheita. Era de Luísa que não existia nos livros mas em si. Foi por amor que ficou e por ele cava a terra. Cansado, fecha o portão e com a enxada e o ancinho na mão direita começa a subir a encosta. No cimo espera-o Sebastião.
Ainda aqui? Vamos almoçar.
Sebastião não se move.
Que se passa?
Já não sinto as pernas. Mesmo deitado, este cansaço que me impede de mexer. Tenho de dormir para recuperar forças. O que mais me custa é não conseguir ver. Espera. Alguém se aproxima. AH, limpam-me os olhos. O melhor é levantar-me. Um esforço ...não. Deixar-me estar. Já não ouço ninguém.
Um tiro de caçadeira acaba com o sofrimento do cavalo. Descansará numa cova ao pé da velha azinheira. E é neste mesmo lugar, agora sagrado, que Manuel Ramos reúne os trabalhadores.

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