28 outubro 2005

Belle

Como se chama?
Amélia dos Santos Pereira.
Nome do pai e da mãe?

Agora que lhe li a acusação, quer falar sobre estes factos?
Sra. Doutora Juíza, eu já paguei essa dívida que tinha para com o Sr. Jorge e por isso, quando recebi a notificação para apresentar os bens pensei que se tratava de um lapso por que já tinha pago. E o Sr. Jorge pode confirmar tudo isto.
Mas sabe, do que consta aqui do processo, a sua dívida ainda não estava paga quando foi notificada para apresentar os bens ao encarregado da venda ou ao tribunal.
Pois Sra. Doutora, deve ter havido algum problema por que entreguei € 250,00 ao Sr. Jorge e fiquei de lhe entregar € 300,00 no mês seguinte.
E lembra-se de assinar a notificação que lhe falei e que está aqui como pode ver?
Belle estica o braço com o processo em direcção ao funcionário que leva os autos à arguida.
A assinatura é minha, sim senhora.
E percebeu o que ai estava escrito? Alguém lhe explicou?
O Sr. do tribunal explicou que tinha de entregar os bens e eu disse que tudo estava resolvido e ele disse que isso não era problema dele e pediu-me para assinar e eu assinei.
Mas percebeu que se não apresentasse os bens cometia um crime de desobediência?
Eu li que podia cometer um crime mas não pensei que fosse por causa disto.
Belle dá a palavra ao Procurador Adjunto que substituí a Drª. Paula Vaz que tem uma filha doente com faringite.
Eu só queria perguntar, Srª. Doutora, se pensou não apresentar os bens para…
Pode fazê-lo directamente Sr. Doutor.
Olhe, não pensou que se por acaso não apresentasse os bens podia ir atrasando o processo já que assim não s conseguiam vender?
Mas eu já tinha tudo pago, não precisava disso!
Bem, se eu percebi, e mesmo de acordo com o que diz, ainda tinha de pagar € 300,00. Pagou-os?
Não, depois foi o meu marido que começou a tratar de tudo e como ele é vigilante à noite e eu trabalho de dia ainda não tivemos de falar sobre isso.
Sim, mas esta questão é de há dois anos atrás. Durante esse tempo sempre se foram vendo, não foram?
Claro mas passou.
Não quero mais nada e prescindo da testemunha de acusação.
Não havia testemunhas de defesa pelo que Belle deu palavra para alegações e depois de ouvir a arguida sobre a sua situação económica e familiar (costureira e empregada de limpeza às horas, com dois filhos de 7 e três anos e o marido segurança ), marcou a leitura para o dia seguinte.
Belle fez ainda mais dois julgamentos, um também de desobediência (não entrega de carta de condução) e de exposição de géneros alimentícios avariados mas como os arguidos confessaram os factos (primeiro) e no segundo o arguido, gerente da um minimercado admitiu a negligência na vigilância da carne, não vale a pena contar o que aí se passou.
Hora de almoço. Hoje é dia de Belle ir com as colegas ao shopping comer comida vegetariana. O João não vem por que o que não é carne não é comida (a barriga dele começa a passar os quatro meses).
Um agarrar rápido no pequeno casaco de pele que cobre o decote da blusa. Ao pegar nas chaves fita os olhos de Pedro que sorri numa praia. Leva os dedos aos lábios e cola um beijo no vidro da moldura. Bate a porta e começa a rir com as colegas.
Bela vida. Digo eu, moicano, nesta tenda húmida a ver chegar o espírito da tempestade.
Será que Amélia, a arguida, vai ser condenada? Aceitam-se palpites.
Ah! Um abraço ao Independente e ao Verbo jurídico.

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