31 dezembro 2005

Conto de Natal-III





Scrootes acordou no seu quarto. Disso não podia haver dúvidas. Num sofá estava sentado um glorioso Gigante que segurava uma tocha e levantando-a bem alto iluminou a cara de Scrootes que espreitou á porta.
Entra, entra, homem! Vem conhecer-me melhor! Eu sou o Espírito do Natal Presente. Olha para mim! Nunca me viste antes?
Nunca.
Nunca andaste com os irmãos mais velhos da minha família (eu sou muito novo) nestes últimos anos?
Penso que não disse Scrootes juntando os dedos das duas mãos formando uma concha. Tens muitos irmãos?
Mais de oitocentos!
Isso é que deve ser um deficit para suportar. Espírito conduz-me para onde quiseres.
Toca no meu manto!
Scrootes assim fez e de repente estavam nas ruas de uma manhã fria de Natal.
Passaram pela casa do assessor de Scrootes e o Espírito abençoou-o com o brilho da sua tocha. Que lata! A única coisa que fazia era reproduzir os meus brilhantes pensamentos e ainda assim é a ele e casa de três assoalhadas que o Espírito abençoa.
Então surge a mulher do assessor, pobremente vestida com uma puxo de cabelo preso no alto da cabeça ajudada pela segunda filha e preparam batatas ao lume que estão prestes a estalar a pele. A tudo isto assistiam os dois filhos mais novos do assessor em gritos e louvores ao pai.
Nunca mais chega a Marta disse a mulher do assessor.
Cá estou eu!
Ainda bem que chegaste - disse a mãe pregando-lhe uma dúzia de beijos. Senta-se ao pé da lareira.
Não, não! O pai está quase a chegar. Esconde-te, Marta, esconde-te.
O assessor chegou e foi rodeado pelos filhos.
Onde está a Marta?
Não vem, disse a sua mulher.
Não vem?! No dia de Natal!
Marta apareceu de repente e saltou para os seus braços.
Isto é melhor que ouro ou uma boa diuturnidade.
E então preparam-se para comer o peru que pela primeira vez tinham na mesa. A mulher do assessor suspendeu a respiração enquanto se preparava cortar o animal. Todos os miúdos soltaram um sonoro Hurrah! Foi o melhor peru da vida deles. A seguir o pudim, a dieta que se lixe disse a mulher do assessor.
Depois do jantar, a família reuniu-se num círculo e todos se abraçando o assessor disse: Um Feliz Natal para todos nós! ao que a família respondeu Deus Abençoe todos nós!
O miúdo mais pequeno sentou-se perto do pai na sua pequena cadeira.
Scrootes levantou a cabeça ao ouvir o seu nome.
Se o Scrootes estivesse aqui eu mostrava-lhe o que era bom. Nunca vi um homem tão odioso, sem sentimentos como ele. Tu sabes que ele é assim, melhor que ninguém!
Querida , hoje é Natal!
E depois deste mau momento passar voltaram a ficar alegres, ainda mais alegres do que antes! Era uma família pobre, mal vestida. Mas eram unidos, felizes e contentes com os tempos que viviam. Scrootes não os largou de vista especialmente ao mais pequenino da família
Foi com surpresa que Scrootes ouviu um riso E mais surpresa teve quando viu que era o seu sobrinho agora que estão numa sala brilhante com o Espírito a olhar para o mesmo sobrinho. Quando este sorriu, Scrootes também sorriu por simpatia.
Ele disse que o Natal era uma tolice!
Ele que tenha vergonha disse a sobrinha de Scrootes. Era bonita com uma boca que parecia ter nascido para ser beijada. Tinha uns olhos radiosos
Ele é um cómico snob. Apesar de tudo, nada tenho contra ele.
E comeram e depois de comerem beberam chá e depois ouviram música. Mas nem só de música se tratou á noite. Jogaram à cabra-cega tendo-se todos divertido muito.
Ora cá está um novo jogo. Já só falta meia hora!
Era um jogo chamado Sim ou Não onde o sobrinho de Scrootes tinha de pensar em alguma coisa e os restantes tinham de adivinhar o que se tratava só respondendo o sobrinho Sim ou Não.
As respostas conduziram às afirmações de que era um animal, um animal desagradável, um animal selvagem, um animal que mentia descaradamente, que não dialogava, que vivia em Lisboa mas passava férias sempre no estrangeiro, que nunca se misturava com o povo, que achava só ele tinha razão, que não ouvia ninguém, que nunca seria morto num talho, não era um cavalo ou um burro, um cavalo ou um touro, um tigre ou um cão, um porco ou um gato ou um urso. De repente a irmã gritou:
Já sei quem é. É o teu tio Scrootes.
Certíssimo!
Scrootes que até estava a divertir-se com a cena perdeu o fôlego. Voltaram a viajar, ele e o Espírito. Todas as casas que viram, com pessoas doentes na cama, ou países estrangeiros, pobres ou ricos, hospitais ou cadeias, todos eram felizes. De repente, num espaço aberto, o relógio bateu as dozes horas.
Scrootes olhou para o Espírito e já não o viu. Lembrou-se do aviso do Ministro e levantando os olhos viu um solene Fantasma avançando na sua direcção como uma neblina em sua direcção. Já não estou na Suíça, pensou Scrootes. Deve ser o último Espírito.

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