01 dezembro 2005

Belle-VI


O inspector sai do corredor frio em direcção à brisa do fim de tarde. Atravessa a porta e no passeio estende um braço para se apoiar no muro e atirando a cabeça para a frente vomita. Levanta a cabeça e com o lenço que tira do blusão limpa a boca. Ia guardá-lo de novo mas o cheiro incomoda-o e atira-o para cima do nojo. As pessoas passam por si e desviam-se. É, pensa João, nada como a morte para encurtar a distância de quem amamos. Começam a cair grossos pingos de água e o inspector apressa o passo em direcção à sede.
Belle levanta-se de um salto e corre em direcção à banheira abrindo a torneira de água quente. Mal consegue abrir os olhos. Esteve a trabalhar até às 03.00 horas numa sentença de homicídio negligente com pedido de indemnização civil. Enquanto a água escorre pelas suas costas pensa que nada irá compensar a perda daquele filho. Agora, que limpa o espelho embaciado que mal reflecte a toalha que tem no cabelo, à sua frente um camião segue pelo nevoeiro. O motorista é experimentado mas já conduz há seis horas seguidas. Vai bebendo o café do termos mas tem de chegar a tempo de descarregar no hipermercado. Procura colocar o copo no assento sem derramar os restos do café e desvia o olhar da estrada por breves segundos. Quando olha em frente depara-se com uma casa e um passeio onde está um menino com uma mochila às costas. Trava a fundo e guina o volante para a sua esquerda. O miúdo põe a mão à frente dos olhos quando a luz dos faróis incide sobre si.O camião galga o passeio e embate contra o corpo franzino da criança que é projectado pelo ar e cai em cima de um portão com grades. O tronco fica espetado numa dessas grades enquanto o camião tomba e acaba por parar de encontro a uma outra casa. O motorista sofreu apenas arranhões na testa.
Sem pestanejar, Belle explica ao motorista a pena. A família da vítima ouve a sentença sentada nos lugares do público. Silêncio. Frio. Belle já decidiu enquanto toma um café na máquina do tribunal. Este ano vai concorrer a uma vara criminal. Se é para sofrer com estas sentenças, ao menos que o seja em grande. E a ganhar melhor. Perto da amiga Simone. Ou pelo menos mais perto. Atira o copo de plástico para o lixo e bate à porta da colega Elsa. Está grávida de sete meses e a barriga já lhe pesa. Dentro de dias vai meter baixa e Belle vai acumular com o seu juízo.
Olá! Como está o teu herói?

Foi um pequeno excerto da vida de Belle que a inspiração já conheceu melhores dias. Um dia estarei perto de escrever o que gostaria. Mas, ah, sim? O que deseja?
Boa tarde. Eu estou à procura do primeiro moicano.
É o próprio. Quem é o senhor?
O meu nome é Cin Ique. E gostaria de poder escrever no seu blogue.
Bem, realmente ando um pouco sem inspiração. Mas já tenho amigos de estimação suficientes, percebe? Não me vai arranjar problemas?
Nem pensar. Serão pequenos apontamentos que saem directamente da minha inspiração e que tornarão a sua tenda mais conhecida.
Bem, realmente preciso de mais hits ou visitas.
Está bem. Mas comentários curtos, certo. E pode começar já.
O. K. Não se arrependerá.
Hoje irei falar do nada ter para dizer. No início era o verbo. Depois veio o sujeito. A seguir a palavra e depois a frase. Muitas vezes falamos e nada dizemos. OH! Falar sem nada querer significar! Dizer o que não se fala e se cala! Calar o que se diz! É preciso sentir a fala. Sem palavra o mundo estaria calado. Sem falar não existiria a palavra amar ou idealizar nem gritar (Sónia!). Quando não há nada para dizer, diz-se a palavra e o verbo nasce de novo.

Web Counter by TrafficFile.com