12 dezembro 2005

Shall we dance?


E agora?
João suspira. Sei lá. Olha para Xavier. Foi por pouco. Quase que lhes sinto o cheiro. A noite rodeia-os. Vamos dar umas voltas.
Percorrem ruas, estradas e acabam num café. Bebem um café duplo e comem umas sandes de presunto. Entram de novo no carro e embrenham pela serra. Xavier começa a mexer-se enquanto conduz.
Pá, preciso de esvaziar. Vou parar.
Pára o Renault na berma e sai em direcção aos arbusto. João aproveita para apanhar ar e ver a lua. O bafo frio sai-lhe da boca. Xavier aperta a braguilha e volta-se em direcção ao carro. Vamos?
João abana com a cabeça repetidamente. Abre a porta e ouve-se um estalido.
O que foi isto? Ouviste?
Xavier encolhe os ombros e aponta o ouvido esquerdo na direcção do exterior como se pudesse sintonizar o ruído.
Não. Não deve ser nada.
Um gemido.
Porra, está aqui alguém! Saca da pistola e aponta em direcção ao arvoredo.
Vira os faróis para aqui! Vamos!
Xavier faz avançar o carro alguns metros virando os faróis para o interior da floresta.
Uma mão agita-se no ar.
Quieto aí! Polícia Judiciária! Um movimento e disparo!
A mão cai.
Com Xavier atrás João avança devagar apontando a arma em direcção ao local onde viu a mão. Há manchas de sangue nas folhas.
Paulo confunde-se com a terra. João guarda a arma e ajoelha-se junto dele.
Meu Deus! Que te fizeram, miúdo?
Xavier corre em direcção ao carro e agarra no comunicador.
Batem á porta.
Então, já tens tudo arrumado?
Faltam umas capas, Jorge. De resto, já está tudo encaixotado.
Vais ter saudades nossas?
Belle olha para o colega e diz que sim com a cabeça. Detesta despedidas e está quase a chorar.
Vou despedir-me da Simone. Vens?
Ah, a Simone não está.
Não? Mas está tudo bem? Não há nada com o bebé?
Não, não. É qualquer coisa com o marido.
Ele voltou?
Jorge pára a caminhada.
Não. Nunca mais o viram. Mas há qualquer problema com ele.
Que tipo de problema? Bolas, pá, que mistério esse?
A P. J. esteve aí outro dia e um inspector falou com ela.
Sim, eu vi-os a chegar pela janela.
Não sei de mais nada. A Simone não falou e não tive coragem de lhe perguntar. Tu…
Não, nada. Não me disse nada. Também não tenho estado muito com a Simone, sabes, a mudança e isso tudo… . Que coisa. Belle olha agora para o espelho do elevador. O mesmo através do qual João observava disfarçadamente Simone e pensava que ela não sabia de nada.


O primeiro moicano desliga a música e esfrega os olhos.
Preciso de ir à tenda do Ninho Com Divã. Tenho de desabafar.
Um quadro na parede com uns moicanos junto de umas árvores e um rio.
Quero encontrar-me. Pode ajudar-me.
Hum, hum. Deite-se.
Então, é assim. Sinto que me estou a conduzir para um beco. Não sei quem sou. Se um moicano que assume que quer ser diferente ou alguém que finge que não quer ser o que deseja. Percebe?
Hum, hum.
Fiz o blogue para expressar as minhas ideias e por vezes dou por mim a escrever em blogues alheios comentários de que ninguém gosta. E depois levo respostas que não estava à espera. Às vezes basta não chamar pelo nome da bloguer para levar nas orelhas. E dizem que eu acho que o mundo gira à minha volta!? Caramba, o meu blogue nem cinco mil visitas tem, contando com as vinte vezes diárias que vou lá para o número não ser ridículo. Começo ter a mania da perseguição. Será que aquela do bar do C. E. J. era para mim? E sou «o outro que se lixe»? Estou a ficar louco! Que devo fazer? Tirar este disfarce e mostrar o meu peito ou ignorar e seguir o meu caminho?
Hu…
E não diga Hum hum outra vez!
Certo. Olhe, o tempo está a acabar. Dance.
????
Sim. Dance. Solte essa energia. E vista outra roupa.
O primeiro moicano sai confuso. Enquanto caminhava em direcção à praia artificial da reserva, com nova roupa – camisa branca, fato e gravata -, um senhor de barba bate-lhe com a mão no ombro.
Viva.
O primeiro moicano vira-se. Ah, eu conheço-o. É aquele do filme, o
Zorba. Ouvi dizer que tem alguns problemas. Talvez queira falar.
Falar? Não, obrigado. Já desabafei com Ninho Com Divã.
Muito bem. Zorba olha para a praia e as tendas ao longe.
Vocês vão e vêm a pé? Isto é muito longe. Tenho uma ideia. Construía-se um teleférico e podiam ir sentados a viam as vistas. Que me diz?
Ah, sabe, acho que isso não ia resultar. Já agora, ainda dança?
Se danço? Estava a ver que não perguntava. D. J. música, por favor.
Zorba e o moicano dão os braços e começam a dançar. Primeiro devagar e depois em passo acelerado.
No fim, abraçam-se e após Zorba desaparecer no horizonte o primeiro moicano segue o seu caminho.

3 Comments:

Blogger Kamikaze (L.P.) said...

Nota: antecipadas desculpas pela falta de acentos que, va-se la saber porque, o blogger deixou de me permitir colocar.
.
Eu sou dos que contribuem para o aumento do nº de visitas... mas a maior parte das vezes parece-me k se fala aqui em circuito totalmente fechado, apenas entendivel por duas ou pouco mais pessoas, que se entretem em picar-se mutuamente... O que levara, nao duvido, a que as ideias que aqui perpassam sobre a "justiça e sua reforma" nao andem a merecer muita atençao. Acresce que que geralmente sao inseridas em posts interminaveis em que se misturam todos os temas e mais alguns, incluindo muitos alguns que nada tem a ver com a dita "justiça e sua reforma"...
Nada contra, muito pelo contrario, relativamente a diversidade de temas e formas de os abordar, mas tudo misturado em cada post parece-me que nao leva a lado nenhum. Esta e a opiniao sincera de quem ja participou activamente num blawg com bastante audiencia e que (tenta)le(r) diarimante o moicano, que nao faz ideia quem seja (para alem de saber que e juiz) nem, alias, esta especialmente interessado em saber. Por isso espero que, com este comentario, nao se sinta tentado a sentir-se vitima de perseguiçao... :(

dezembro 12, 2005 2:38 da tarde  
Blogger xavier ieri said...

Pois eu também leio, sempre que posso, este blog e os numerozinhos das visitas também têm origem nas teclas do meu teclado.
E gosto.
Ó moicano (que eu também não sei quem é e nem me interessa),

É bem de ver que é uma felicidade as tendas (verdadeiramente chama-se 'tipi' e nem percebo porque é que um moicano não usa o termo), mas dizia eu que é uma felicidade os tipis estarem equipados com internet, o que permite comunicar para além dos sinais de fumo.
Além disso, é ainda óptimo poder ir ao Ninho com Divã e deixar que aquilo que lá se confessa seja colocado imediatamente na praça pública (os moicanos são da terra do Gates e está tudo dito!).
Afinal, parece que tenho razão: Hoje já ninguém vai verdadeiramente ao Ninho com Divã. Vai tudo ao blog e não se fala mais nisso.
Continue, caro amigo, e continue a brindar-nos com mais textos interessantes.
E ria-se, caneco, ria-se desta caca toda.
Guarde as formalidades e o registo institucional para os locais próprios.
No mais, divã com elas (as preocupações, entenda-se).

dezembro 12, 2005 3:21 da tarde  
Blogger Cleopatra said...

Escreve bem!

Adorei.

Vou voltar mesmo!!!

AH!

Adoro dançar!

"Shall we Dance"?

A propópsito, viu o filme?

dezembro 15, 2005 12:15 da manhã  

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