06 fevereiro 2006

A Festa-II


Sentem-se, diz o moicano. Ainda bem que vieram
Belle e Simão puxam as cadeiras e sentam-se a olhar para os espelhos à sua frente O moicano hesita mas ganha coragem:
AH, a Simone não pôde vir, não?
Belle responde algo secamente.
Não, teve de ir à abertura de uma exposição em Bilbao. Pede desculpa.
Claro (raios!).
Posso começal a selvile?
O moicano olha para o empregado chinês e rosna.
Sim, traga lá uns crepes.
Quantos, senhol?
Quantos?, Não vê? Três. Para já.
Obligado.
O senhor está muito bem.
Muito obrigado. Sinto-me melhor desde que deixei a bengala.
Pois.
O jantar arrasta-se.
Bolas, isto parece o contador do meu blogue. Não anda.
À mesa são seis: moicano, Belle, Simão, inspector João, Strelnikof, Sertório. Qual deles o mais velho.
Depois da banana Fá-Si, o moicano ergue o copo e bate com o mesmo nos dos convidados. Profere algumas palavras.
Estou cansado amigos. Vou despedir-me. Já não faço parte deste conjunto de ideias e cada vez me sinto mais deslocado. Vou partir para outra. Pode ser que às vezes, qual fantasma, apareça mas duvido. A justiça não precisa do que digo. Mas a vocês todos, obrigado e bem hajam por existirem.
Bebe um trago e pede a conta.
Está tudo pago, senhol.
Mas quem pagou?
Não intelessa. Vá em paz.
O moicano veste a gabardine. Está a chover lá fora e não tem guarda-chuva.
Bem, obrigado. E adeus.
Adeus. Volte sempre.
Enquanto o moicano abandona o restaurante, o empregado chinês dirige-se ao W. C., tira os dentes falsos que lhe saíam das gengivas e a peruca de cabelo escorrido. Tony Clifton aparece em todo o seu esplendor.Vai até junto da mesa onde esteve o moicano.
Pobre homem. Esteve aqui sozinho toda a noite.
Vira-se para o espelho, levanta um copo e diz: À tua, moicano! Em seguida, desaparece no reflexo da luz.
O moicano corre pela chuva e esbarra num ombro. Volta-se meio atordoado.
Moicano?
Esta toalha na cabeça. Só pode ser.
Excêntrico?
Sim, pá ouvi dizer que te ias.
Sim, me vou.
Boa sorte. Vou ali à imobiliária. Acho que tenho quem me compre a casa e a mobília.
Boa Sorte.
Adeus.
O moicano corre pela noite. Em direcção à tenda e cada gota que cai no seu corpo apaga a sua existência até nada mais restar que uma poça de água no chão.
FIM.

13 Comments:

Blogger C said...

O teu trilho permanece moicano.

fevereiro 06, 2006 2:27 da tarde  
Blogger xavier ieri said...

Fim deste episódio, espero e reivindico.

fevereiro 06, 2006 2:35 da tarde  
Blogger xavier ieri said...

A língua portugesa é terrível...
Para os treslidores aqui vai outra versão do meu anterior comentário: Espero que o "FIM" se reporte apenas a este post ou episódio, e reivindico a continuação da publicação de que sou leitor assíduo.
Pelo-me sobretudo pelos textos mais surrealistas.
Saber dizer contos no campo do surreal ou do fantástico não é para todos. Apenas para aqueles que têm criatividade e imaginação, ou seja, talento para tal.
Ora, eu não estou disposto a abdicar, pelo menos desses contos.
E, estou certo, há muitos outros leitores.
Mas mesmo que não houvesse.
Que importa ter leitores, muitos ou poucos, se tudo se esgota no acto de libertação da escrita? (ou não? Se a resposta é não, então calo-me!)

fevereiro 06, 2006 5:51 da tarde  
Blogger moicano said...

Caro excêntrico.
Não sei se vais ler isto mas quero agradecer-te o teres sido aquele que lia o que eu escrevia e de forma sincera, mordaz e construtiva dava réplica. Desejo-te toda a felicidade possível e para além disso. E eu poderei surgir noutro sítio, noutro local e se conseguir, mandarei uns sinais. Afinal de contas, ashes and diamonds, foe and friends, we are all equal in the end; e é assim que eu penso que o mundo deve ser: igual na diferença. Boa sorte!

fevereiro 09, 2006 12:00 da tarde  
Blogger xavier ieri said...

Não sei identificar, mas há algo que nos irmana...
Um grande abraço
e até um dia destes...

fevereiro 09, 2006 2:29 da tarde  
Blogger Cleopatra said...

Desculpe Moicano mas fui ao Blog do Apache e encontrei-o.
Fiquei cheia de ciúmes..

Como pode não visitar o meu???

fevereiro 18, 2006 10:18 da tarde  
Blogger Cleopatra said...

Não pense que agora que eu cheguei aqui se vai pôr a andar como uma chuva em campo seco.
nada disso!

vamos lá continuar que eu só chegeuei agora e quero continuar a ler.

Ah! O empregado chinês afinal falava assim... polque tinha dentles polstiços!!!

Bem Visto!

I'll be back!!!

fevereiro 18, 2006 10:41 da tarde  
Blogger xavier ieri said...

Sereníssima Cleópatra
e que tal se divulgasse o blog do Apache, por exemplo, aqui?
Parece que nada obsta. Sendo blog é público...

fevereiro 20, 2006 6:33 da tarde  
Blogger Cleopatra said...

Sereníssima???

EU??!!!

nada de nada!
posso divulgar pois...
mas pode lá ir também...
É público e acho que ele já veio a este Blog.

Vou dormir para ficar serena!
Bem preciso!

fevereiro 20, 2006 11:45 da tarde  
Blogger xavier ieri said...

Imagino sempre a beleza como algo de muito sereno.
Sendo Cleópatra só pode ser serena.
Da outra serenidade nem me atrevo...
:)

fevereiro 21, 2006 9:22 da manhã  
Blogger Cleopatra said...

Ok!

Entendi.

Serenemos então!

fevereiro 25, 2006 5:16 da tarde  
Blogger DarkMorgana said...

A existência nunca se apaga!
Pode é mudar ao sabor da vontade,
pode é refrescar-se com a chuva da noite, pode é ficar mais leve com um suspiro de alívio, mas nunca se apaga!
Também gostei!
Tem a rebeldia de um verdadeiro moicano tatuada na alma!

fevereiro 26, 2006 9:56 da tarde  
Blogger Apache said...

Ó Xavier, a Cleópatra não tem que divulgar o meu blog, apesar de "nada obstar".
O meu blog, tal como o seu ou qualquer outro, divulgam-se por si ou pelo autor!
Ou a sua sugestão era... menos ingénua?!

abril 18, 2006 12:06 da manhã  

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