Homens de Negro

O juiz olha para a beca pendurada no cabide. Gabinete vazio. As lágrimas soltam-se. Num impulso dirige-se em direcção ao tecido preto. Agarra-o com as duas mãos. Encosta a face no escuro da saudade. O cheiro. Forte. Másculo.
Passos no corredor. Sair e esconder. Fecha a porta. Naquele instante em que a porta se fecha jura que o vê sorrir na secretária.
Jorge, sabes onde pus a gillette?
Não, Manuel. Caramba, és sempre o mesmo, nunca sabes onde tens nada.
É por isso que me amas.
Sim, mas pelo menos faz a barba.
Por isso é que quero a gillette, da!
Saem do prédio, longe da cidade. Ninguém do meio pode saber. Seria um escândalo, dois juízes homossexuais. Estão no elevador. Que desculpa deste à tua mulher?
Pá, Jorge, começo a não saber que dizer. Disse que ia dormir com um homem e ela riu-se e mandou-me à fava.
Manuel não acha graça.
Estou a brincar. Sabes que isto é muito sério para mim diz Jorge enquanto acaricia o cabelo de Manuel. A porta do elevador abre-se. É a vizinha do 5º andar.
Olá meus amores, mais um dia de trabalho, não é?
Jorge e Manuel abanam a cabeça em sinal afirmativo.
Tão queridos! E tu, Jorge, a pô-los atrás de grades. Vocês são os maiores.
E agora, Jorge, sentado, de preto vestido, ouve as palavras do assistente e lembra-se daquele momento em que Manuel lhe disse, no café, que se ia embora, para os Açores.
Preciso de estar longe de ti. Tu tens mulher, uma filha. E nunca as vais deixar. E, pá, eu não nasci para freira. Passam-se semanas em que não estou contigo. Jorge, meu, não dá.
Manuel, ouve, é muito difícil, eu vivo num dilema permanente. Sabes lá tu, o difícil que é. Quando faço amor com a minha mulher…
Manuel semicerra os olhos em direcção a Jorge e treme de raiva.
Escuta, quando faço amor com a minha mulher às vezes é horrível, só penso em ti e em como tu, em como tu…
Até isso te custa dizer, meu. Não dá, pá, és um maricas!
Pois, se calhar diz Jorge incomodado com a palavra.
Vou para os Açores. Pode ser que olhando o mar encontre definitivamente a minha sexualidade já que tu a recusas. Se quiseres, podes concorrer para lá.
Jorge olha pela montra do café.
Até me posso divorciar mas e a minha filha, como a vejo se vou para os Açores? E haverá algum juiz que me deixe ficar com ela?
Jorge e Manuel olham para o tampo da mesa. Manuel levanta-se e colocando a mão no ombro de Jorge sai pela porta.
Jorge fica estático por uns segundos. Apetecia-lhe correr e abraçá-lo e não mais o largar. Mas o telemóvel toca e desvia o olhar para atender. Ao colocá-lo junto à orelha já não o vê.
E cá estou. A envelhecer e casado com uma mulher que não amo a ouvir quem não me interessa. Resta-me a beca de que te esqueceste e que visto agora. Para sempre.
Passos no corredor. Sair e esconder. Fecha a porta. Naquele instante em que a porta se fecha jura que o vê sorrir na secretária.
Jorge, sabes onde pus a gillette?
Não, Manuel. Caramba, és sempre o mesmo, nunca sabes onde tens nada.
É por isso que me amas.
Sim, mas pelo menos faz a barba.
Por isso é que quero a gillette, da!
Saem do prédio, longe da cidade. Ninguém do meio pode saber. Seria um escândalo, dois juízes homossexuais. Estão no elevador. Que desculpa deste à tua mulher?
Pá, Jorge, começo a não saber que dizer. Disse que ia dormir com um homem e ela riu-se e mandou-me à fava.
Manuel não acha graça.
Estou a brincar. Sabes que isto é muito sério para mim diz Jorge enquanto acaricia o cabelo de Manuel. A porta do elevador abre-se. É a vizinha do 5º andar.
Olá meus amores, mais um dia de trabalho, não é?
Jorge e Manuel abanam a cabeça em sinal afirmativo.
Tão queridos! E tu, Jorge, a pô-los atrás de grades. Vocês são os maiores.
E agora, Jorge, sentado, de preto vestido, ouve as palavras do assistente e lembra-se daquele momento em que Manuel lhe disse, no café, que se ia embora, para os Açores.
Preciso de estar longe de ti. Tu tens mulher, uma filha. E nunca as vais deixar. E, pá, eu não nasci para freira. Passam-se semanas em que não estou contigo. Jorge, meu, não dá.
Manuel, ouve, é muito difícil, eu vivo num dilema permanente. Sabes lá tu, o difícil que é. Quando faço amor com a minha mulher…
Manuel semicerra os olhos em direcção a Jorge e treme de raiva.
Escuta, quando faço amor com a minha mulher às vezes é horrível, só penso em ti e em como tu, em como tu…
Até isso te custa dizer, meu. Não dá, pá, és um maricas!
Pois, se calhar diz Jorge incomodado com a palavra.
Vou para os Açores. Pode ser que olhando o mar encontre definitivamente a minha sexualidade já que tu a recusas. Se quiseres, podes concorrer para lá.
Jorge olha pela montra do café.
Até me posso divorciar mas e a minha filha, como a vejo se vou para os Açores? E haverá algum juiz que me deixe ficar com ela?
Jorge e Manuel olham para o tampo da mesa. Manuel levanta-se e colocando a mão no ombro de Jorge sai pela porta.
Jorge fica estático por uns segundos. Apetecia-lhe correr e abraçá-lo e não mais o largar. Mas o telemóvel toca e desvia o olhar para atender. Ao colocá-lo junto à orelha já não o vê.
E cá estou. A envelhecer e casado com uma mulher que não amo a ouvir quem não me interessa. Resta-me a beca de que te esqueceste e que visto agora. Para sempre.
20 Comments:
Depois de ler...
Depois de ler ficou-me o espanto...
O choque não...
Mas o espanto.
O espanto da coragem de quem escreve e continua a escrever bem.
Ainda que o escrever seja só escrever... ou não. Não sei.
Também não importa.
Porque é que quem ama... quem ama... ama sempre da mesma maneira independentemente de a quem ama??
Muito BOM!
Lindo!!!
O ritmo suave da melancolia da saudade, contrabalançado com o turbilhão dos diálogos, reais, vivos...
Lindo o tema...sim, porque é bom que haja quem lembre que os juízes não são só figuras sobre-humanas vestidas de negro...
Foi a 1ª vez que aqui vim e vou ver mais...
Há uns fulanos que pintam divinamente.
Quer dizer, pintam tecnicamente muito bem.
Mas o que fazem não é arte.
É apenas pintura tecnicamente bem elaborada.
Quando o Picasso pintou a moçoilas de Avinhão foi um escândalo, foi um golpe de génio, aconteceu arte.
Outros se lhe seguiram, pintando igualmente as suas próprias moçoilas de Avinham e moçoilos da Bretanha.
Mas já não era arte, era uma imitição tecnicamente aceitável.
Há uma diferença entre a genuinidade, que se intui ou apreende de um relance, e o aproveitamento ou inserção no stream temático ou pictórico, de sucesso garantido.
Mas não é genuíno, autêntico.
E isso, nota-se.
Brokeback Mountain pode ser um mote. O mote.
Mas também pode ser apenas modelo. O modelo.
Neste caso, parece mais modelo do que mote.
Começo a ficar farto dos temas da moda, tipo "T-Shirt da moda a 3 euros" na feira de Carcavelos.
Ou, se preferirmos, por aparente melhor referência intelectual, farto de temas da moda que o BE elege como nicho do seu negócio de venda de banha-da-cobra a troco de votos que sabe nunca poder verter em poder...
Enfim... excentricidades...
Brokeback Mountain ...Ok!
Tudo bem excentrico.
E porque não têm os "outros" , o direito de pintar a mesma natureza morta, o mesmo perfil ou a mesma paisagem?
Já agora porqure não têm os outros o direito de sentir como os outros,...E de descrever situações semelhantes..parecidas, id~enticas bla, bla, bla..
Não percebi excentrico..
Afinal, é como diz o Gonçalo Capitão. é uma concordancia discordante ou uma discordancia concordante???
O filme ainda não o vi... ams olhe que também não é novidade...
Já leu o Jovem Persa e viu Alexandre o Grande?
Afinal xavier.... que quer afinal???
aviso: - escrevi a correr o supra escrito.
Peço desculpa pelos lapsos de escrita, erros etc o que lhe quiserem cahmar.
Quanto ao resto, ao espirito, não tiro nem uma virgula!
Ó xavier ieri...não percebi nada do seu comentário!!!
Não se enganou?
Não tenha medo, porque aqui ninguém pensou que fosse um dos personagens do texto!!!
Caras amigas,
Se não perceberam nada do meu comentário é porque, muito provavelmente, não é um bom comentário.
Agora é a minha vez de não perceber:
- Não percebi a agressividade da cleópatra (será caso para lhe retirar o 'sereníssima'?
- Não percebi aquela do "não tenha medo" (?!?), da darkmorgana...
Eu sei que o lado frágil (que é notório) do moicano pode ser apelativo, em termos emocionais, especialmente para as almas femininas... (coitadinho?) (espero que não...)
Mas, não posso deixar de dizer:
Quem lê o moicano durante meses e meses, como eu leio, tanto aqui como noutros spots (leia-se blogs), percebe que ele é extremamente sensível ao que lê e vê e de uma forma extretamente fácil e hábil ele consegue integrar nos seus textos todas as sensibilidades que vai colhendo aqui e ali, por vezes de uma forma tão subtil que é preciso ter feito o mesmo percurso para nos apercebermos de tal.
A minha crítica (pois crítica é) advém daí e é-lhe destinada. E ele saberá do que falo. E é pessoa para dar resposta. Não directa. Mas sob a forma em que ele é mestre.
Por isso, aguardo pacientemetne o resultado da minha provocação, para poder deleitar-me com as subtilezas da sua resposta, quando acontecer.
Por isso, caras amigas, a menos que tenham procuração do moicano, as vossas reações são, no mínimo, descabidas, tontas...
Fazem até lembrar-me uma "loira" em cima de um banquinho, apontando um aranhiço ao longe e a gritar histericamente #@*+»#%*
Acho que perderam uma bela oportunidade para estar em silêncio, meninas.
Oh excentrico, a DarkMorgana até parece ter razão.
Afinal, por ter aparecido de toalha enrolada na cabeça na postagem anterior, ela só deve ter querido dizer-lhe que não o via nem a si nem ao moicano a cheirar uma beca, de beca com beca ou sem beca vestida.
Quanto à minha suposta agressividade,.. Nada disso!... é aoenas um comentário que eu julguei seria lido com a inteligência e perspicácia que lhe é habitual!
...............
-Oh Silva!
- Diga Sr. Ministro?
- Viste O Excentrico?Parece que chamou loira á Cleopatra e a uma feiticeira que por aí anda!
- Pois foi Sr. Ministro! E logo à Cleopatra, com aquele cabelo cor de asa de corvo!
- Oh Silva.... Não queres dizer à Cleopatra e não só, que foi ele quem descobriu, que o tal, estudo que era para Juízes, foi o Aniceto quem fez?
- E para quê Sr. Ministro?
- Ela não vai acreditar depois de ele lhe ter chamado Loira!
E se a rainha não acredita...
Bjinho
................
- Ó Silva!...
- Sim...Sra Ministra da Magia...
- Já ouviste falar do excêntrico?
- Aquele que, como Vossa Excelência diz, faz a "Contra-informação" em formato-blog?
- esse mesmo...então não é que ele agora disse que eu parecia histérica e loura???
A mim e à Cleópatra!!!
- Excentricidades...Vossa Excelência...mas sempre usou aquele feitiço d...
- Não homem!! Claro que não!!!
Esse está guardado para o Trocas-te!!!
- Ah...ainda bem...
- Ó Silva...a liberdade de expressão inclui chamar nomes aos outros?
- Não sei, Sra Ministra...
- Olha...passa-me mas é aí esse frasquinho...
- Este escuro e opaco?
- Não...o do lado...aquele que se usa quando um menino que até parece inteligente, faz dois maus comentários seguidos...
Não é frasquinho da Benzina, pois não?!
;)
Sereníssimos... Vamos nos rir com isto????
Muito bem!
Ah! Ah! Ah! Ah!
:)
...é como os treinadores de futebol: passam de bestiais a besta num piscar de olho...
De qualquer modo, tenho cá uma teoria segundo a qual há uma besta em cada ser bestial, mas também há um ser bestial em cada besta.
Venha o diabo e escolha...
Voltando ao assunto:
"Afinal xavier.... que quer afinal??? " - Raios se isto não me traz à lembrança a Rosa peixeira, mão na anca e chicharro na outra, qual-porrete-pronto-a-escachar-uma-carola-que-nem-uma-toalha-enrolada-à-volta-da-cabeça-o-salva!
E ainda: "Não tenha medo, porque aqui ninguém pensou que fosse um dos personagens do texto!!! "????
Pois...
Estava um fulano, à noite, na rua, em baixo de um candeeiro, a procurar algo.
- O que procuras?
- Deixei cair 2 euros.
- Onde exactamente?
- Acolá, naquele canto!
- !?
- Vim p'raqui procurar porque aqui há mais luz...
Ó balha-me Deuzzezz...zzz
:):):)
É CARNAVAL!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
"Afinal xavier.... que quer afinal??? " - Raios se isto não me traz à lembrança a Rosa peixeira, mão na anca e chicharro na outra, qual-porrete-pronto-a-escachar-uma-carola-que-nem-uma-toalha-enrolada-à-volta-da-cabeça-o-salva!"
Sem comentários.
Lamento.
Ui, que mau humor, cleo.
Ófachavor, endireite-se, ponha-se na forma, peito-pra-fora, barriga-pra-dentro, ...isso!
Agora... ria-se!!!
Leve as coisas com algum humor, caneco!
beijinho.
:)
.................
- Sra. Ministra!...
- Sim Silva...
- Qual é a poção que se usa quando se escrevem 3 maus comentários seguidos?
- Porquê, homem?
- É que o Excêntrico...
- Outra vez? Deixa-me ler...
- Por isso é que eu estava a perguntar...
- Não, Silva! Isto já não vai lá com poções! Isto já é um problema para outro Ministério!...
- Acha, Sra. Ministra?
- Acho! Passa aí a pasta do Excêntrico e escreve:
- Diga, diga...
- "Este Ministério julga-se incompetente para prosseguir com o presente processo."
- p-ro-ce-sso...
- Ó homem, mete a língua para dentro!!!
- Ó ho-m
- Não Silva! A tua!!
- Ah! Pois está bém!!!..."Processo"! E agora?
- "Assim sendo, após trânsito remeta ao Ministério da Educação."
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
Olá morgana, Bom Dia!
Presumo que está a submeter à minha apreciação o texto precedente.
É um bom texto.
Penso que já "apanhou" a forma.
Deve agora dedicar-se mais à substância, o que não deverá ser difícil, face às promessas que as entrelinhas já denotam.
beijinho.
:)
O Semental faria melhor:
De fúrias em fúria em blog sereno / Vêm carpindo lamechas, mundanas / Bramindo, tontas, as safardanas / E provam compulsas o seu próprio veneno!
Não gostam / E arrostam com o chumbo grosso / Na asa / Voltam a casa para o canto mais escuro / Esperam esvaídas / Em plasma / Que alguém lhes venha lamber as feridas.
xi
Ó Moicano!!!
Nunca mais escreveu nada?
Olhe que por esta altura do campeonato, os homens de negro já devem ter que levar as becas à lavandaria!!!
Agora que eu o pus nos meus links é que ele nunca mais escreveu nada!!!!
Ai balha-me Deus!!!
Mas onde é que eu tenho andado que ainda não tinha descobertos estes comentários.
Ai balha-me Deus!!!
É mesmo melhor ir-me embora antes que seja chamada a depor.
Eu não vi nada. Só entrei na porta errada.
Ai balha-me Deus!!!
ESCLARECIMENTO À MOÇAS DE AVIGNON: de facto, Picasso viveu eses para ese quadro, mas várias vezes o alterou, por influências externas - ex., viu uma mostra de arte africana, que explica a prostituta com semblante de máscara tribal.Raios X demonstraram as alterações, e fora descobertas CENTENAS de esboços do quadro, que originalmente tinha uma historia diferente.
Sempre ao serviço da arte, Diplomata.
Um tema apaixonante, este dos amores "impossíveis"...
É pouco relevante (no meu modesto ponto de vista) se a relação é homossexual ou heterossexual.
A questão do casamento do Jorge, a filha dele, talvez o facto de o Manuel ser "apenas" o assistente, a dificuldade em assumir a outra relação, etc. Em suma, a falta de coragem dele, retratada nas palavras frias e directas do Manuel, "és um maricas!"
Esta tendência para considerarmos impossível a "única" coisa na vida pela qual faz sentido lutar, a felicidade, está aqui muito bem explorada.
Um texto destes, merecia outras guerras nos comentários!
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